quarta-feira, 15 de abril de 2009

FIM




dizia-me o Pedro que ninguém repara, ninguém se importa. passa-se o mesmo com os pedintes junto das igrejas ou nas partes mais antigas da cidade. ou, como agora se nota, em toda a parte.
ninguém se importa. dá-se um encontrão e não há tempo para pedir desculpa e se se pede não se ouve a palavra por inteiro porque já o olhar viajou uns 30 graus à esquerda ou à direita. evitamo-nos. estamos invisíveis. conta-se com o óbvio, com o certo. com as palavras banais para
quando alguém se conhece ou se despede. conta-se com um adeus a bold para que reparem em nós e que nos estamos ir embora, mas que, provavelmente, voltamos. isto serve como um recado, como uma espécie de holograma pós-despedida. uma espécie de redenção a todos os que me compuseram o trilho para que ficasse mais fácil de caminhar. ainda não está alcatroado e nem devo querê-lo assim tão... fácil. mas está mais fácil. as palavras são assim. sempre foram. têm, tiveram o peso que lhes queiramos empregar. havia de enumerar nomes, mas sem evidências, por favor. dizia-me o Pedro isto, mas disse-me a Marta muito mais durante muito tempo. disse-me e sorriu-me a Mafalda muitos silêncios; disse-me o Rui que não faz mal nenhum em sermos diferentes e loucos; disse-me a Cláudia a vida inteira; disse-me o João, em tempos, disse-me a Vanessa desde o primeiro dia em que a revi - e diz-me neste preciso instante -; disse-me a Lara que nos vamos ter encostadas uma à outra sempre que houver chão que nos aguente os risos, o ser francamente feliz e disse-me também o António muito num par de conversas difíceis de igualar. disse-me muito mais gente. gente que, sem evidências, continua a dizer-me todos os dias mesmo que não me diga nada.

eu digo,

adeus,

eu pertenço no fundo do rio, junto das outras rochas livres.


maria*