domingo, 8 de abril de 2007

Epigrafia I



Queria escrever e deixar as folhas em que abandono as frases soltas brancas. Queria tocá-las, tatuá-las do início ao fim, aproveitando cada milímetro, cada pequeno espaço e deixá-las brancas. Ou amareladas, conforme o tipo e o tempo do papel.
Custa-me escrever como a quem observa e absorve carinhosamente um instrumento que já não se toca há muitos anos. As primeiras linhas saem arrastadas à força.
A minha mente prega-me rasteiras visuais que quase sinto.
Todas as perguntas que carrego debaixo dos braços e que me seguem todos os dias dentro um caderno de capa preta contêm as respostas de e para tudo.

Faz-me falta sentar e escrever sem parar e mesmo assim nunca deixar de ter assunto.
De dentro dos dedos escorrem palavras.

Fico a escrever automaticamente sem poder antever o que quer que seja. Talvez tudo isto não seja mais que uma manobra de diversão que a mente executa todos os dias antes de liberar o fechar de olhos para mais uma noite longe mergulhada em lençóis de palavras.


Maria Rocha, 2007

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