quinta-feira, 12 de abril de 2007

Indefinidamente sem título e nomes



as mãos a agarrarem-te o rosto do mundo
sem que a pele se estenda e se rasgue
as ruas a alargarem-se para que consigas passar
por todos os céus que te desenhei
sei que disse que nunca houve céu
mas se te desenhar um todos os dias
podes acreditar nas minhas mentiras toda a vida


depois sobramo-nos um no outro
estendemo-nos no fim um do outro com as noites
a fazerem o ritual e nada mais explícito
do que as bocas a morrerem umas nas outras
e os corpos a perderem-se
a prenderem-se
e a perdurarem um no outro


e a memória que me falha mais a mim
seria a primeira a confirmar que os restos são
os sucessores das palavras sem frases
e irias compreender e ler-me e tudo o resto
que viste e presenciaste de mim não seria
mais que todo o mal que te fui guardando
para que a partir do momento te deseje
mentir os céus
enquanto que dentro de tudo
se constroem e se sentem
todos os fogos e infernos
e eu que te disse que nunca houve um céu
mentia-te os céus, um por cada dia que vivesses,
mas prefiro que nos percamos e nos sobremos
nos rostos do mundo que se encontram nas ruas


há palavras que gostava de fumá-las
sempre teria uma espécie de filtro
que não deixava sair todo o peso
de uma vez só
mas seria mais um vício a ser substituído
por outro


e morreríamos também nós com as bocas
e todas as fatalidades que emergem
no meio de todos os silêncios prometidos
mas além dos céus, não te mentiria

nenhum inferno

seríamos nós a desconstruí-lo todas as noites
e seríamos também nós os que iriam fazer com que
os rostos, bocas, mãos, noites não mais se encontrassem


seríamos nós a sentarmo-nos nos sentimentos
e fazer da corrupção do ser todo o sentimento
que compõe o amor



Maria Rocha, 2005

7 comentários:

s. disse...

muito bonito. obrigado. *

Anónimo disse...

in
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te

Maria disse...

s., *sorrio*

É bom saber-te por aqui.
E obrigada porquê?

*

delusions disse...

Gostei mesmo muito... Poema a reler, mesmo depois de relido. Indefinidamente.

Bjs* bom fim-de-semana!

s. disse...

passo por aqui muitas vezes,mas nem sempre sou capaz de comentar. obrigado pelo poema :)*

Anónimo disse...

não me vês, mas algures no canto do palco, permaneço à espera...De te ver. de nos ver. aqui. e em qualquer outro lugar.

Abraço apertado.

Até *

Lobo disse...

Cá vim visitar... :)