sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Interlúnio - as verdades partidas (parte I)



Os homens devoram-se a si mesmos, esporadicamente. É apenas um ritual de metamorfose. Uma espécie de amor desmedido que acaba em sobrevivência animal e que vai deixando um odor intenso, um rasto de textos e de fotografias em cada centímetro do chão desta cidade.

Neste momento, asseguro-te que todas as nuvens de lava que se despenharam contra as paredes externas do teu corpo foram apenas uma imagem física com que te injectaste.

Senta-te. Põe-te confortável.

Todas as galáxias em parto acabaram por se dissipar no epicentro de uma forte dor de cabeça. Todos os astros adormecidos aniquilaram-se no seu sono.

Sabia que a noite estava próxima - uma vez mais -, pois haviam copos de água militarmente arrumados a cercar a secretária desarrumada.

Há vestígios de dor ao longo desta página.

Tentaram estrangular as putas que lhes roubavam as esquinas meticulosamente iluminadas em que se guardavam as mais velhas palavras carregadas de choro, de suor e de angústia.

Tanto faz que a música de fundo esteja em repetição e que se possa vir a lapidar a vontade singular de morte híbrida de qualquer coisa.

Todos os poemas se ajoelharam à porta de suas casas.



Maria Rocha, 2007

2 comentários:

T.E. disse...

Já li e reli este texto umas quantas vezes. Não sei ainda o que me faz gostar tanto da tua escrita. Se descobrir, di-lo-ei.

Vanessa Lourenço disse...

O steus textos proporcionam-me a estranha sensção de entrar numa parede de fumo enebriada é lá a sinestesia é rainha. Gostei, mais uma vez. Um beijo minha cara Mary.*