quinta-feira, 3 de abril de 2008

Clandestinos, I


Lembrei-me de convidar uns quantos rostos perdidos nos anos para tomar um copo na Rua da Barroca, depois de termos subido as escadas do Souk e de termos fechado os olhos ao compasso da voz do Miguel que cantava numa cave. Antes de começar, lembro-me que aquecia a voz com um copo de vinho tinto e que vestia um casaco preto comprido que despia depois do primeiro gole de vinho. Antes de rumarmos à cave que acolheu muitas palavras ditas, bebíamos café... aquele café intragável que nos fazia esboçar caras expressivas de tão mau que era.
E sorríamos. Escrevíamos frases soltas em blocos e guardanapos. Creio ter sido a primeira vez que olhei para um guardanapo de papel com outra utilidade além da óbvia. Acho que o guardo algures até hoje numa gaveta junto a outros tesouros.


Maria Rocha, 2008

1 comentário:

Vanessa Lourenço disse...

É engraçado quando reparamos nas coisas triviais com uns olhos lavados de preconceitos. Reparamos finalmente que o muro pode ser o banco que nos dá aquela vista sobre o jardim que nunca haviamos visto, ou que o espelho não é só para vermos o nosso reflexo mas também para fazer sinais de luzes por entre cortinas que também deixam de o ser para serem o nosso castelo encantado....faço sentido? Não?...Talvez para ti faça...um beijo*