sexta-feira, 24 de outubro de 2008

De navalha em navalha...


Se continuares aí, nesse exacto canto onde a luz te esconde um terço da face, vais, em breve, desaparecer juntamente com os meus braços.
Daqui a pouco vou à janela e vou estendê-los e esperar o tempo que for necessário até que ganhem gangrena e sinta, assim, morrer as extremidades. Ainda aí estás, reparo. Não dizes nada. Olha à tua volta. Vês o mesmo que eu? A única coisa que vejo é o parapeito da janela e o relógio da sala a fazer o barulho que lhe é característico.
Vês? Até mesmo um objecto, aparentemente, sem vida consegue ter mais vida e ser mais previsível que eu. Esquece. Não adianta desta vez passares-me a mão pelos braços. Os mesmos que espero que daqui a uns minutos morram antes de mim. Não creio que consigas com a tua falta de palavras vencer esta minha obsessão. Pára... Nota a palavra. Ob-sessão... Desconstrói. Fazes isso por mim? O quê? Não faz sentido?!
Pois, nunca fez. Nunca fiz. Não me vais trazer novidades debaixo dessa luz que está quase, quase a desaparecer, pois não?
Estimo-te, mas lamento dizer-te que te estás a imiscuir na rua, nas pessoas estranhas e até naqueles bocados de chão já corruptos.
Lamento mas estás mais invisível que eu no momento.
Lamento e não te estimo porra nenhuma.
Lamento e repara em como não quero saber se estás aí debaixo ou se desapareces. Lamento e informo-te que, muito provavelmente, a única coisa que nunca fez sentido aqui és tu. Não me enganei nas formas verbais e tão pouco me esqueci da revisão. É só para te dizer que o número dos braços estendidos vai ser repetido todas as noites e só me interessa saber se haverá corpos a observar. Se és tu, pouco importa. Lamento, mas esqueces-te frequentemente de que sou actriz.
Não (me) confies...



Maria Rocha, 2006

3 comentários:

Vanessa Lourenço disse...

Algo me impeliu a passar no blog antes de dormir, algo me fez crer que tinhas algo a dizer. Começa a ser normal a nossa "anormal" telepatia que já dura há tempo incontável por nós. Um beijo imenso com saudades, por muito parvas que sejam.*

T.E. disse...

Venho cá ler-te, com vontade de o fazer, sem assiduidade padronizada.

mar disse...

e deste mar entrego-te o prémio dardos que poderás dar aos teus 15 eleitos.

podes ver os dardos aqui: http://edestemar.blogspot.com/2008/10/obrigada-lus-pelo-prmio-dardos-que.html