sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Directamente do Inferno



Tudo o que eu venha a escrever a partir de hoje é certamente uma décima do que se passa. Um exemplo a que nem a palavra exemplo deveria servir por tão redutora imagem que poderá passar. Digo-te que a música está em repeat mode. Digo-te que os orgãos insistem espreitar boca fora. Digo-te. Em silêncio. E tudo o que poderei dizer não passará apenas de palavras a suicidarem-se boca abaixo.Gasto imenso tempo a escolhê-las e depois celebram-me assim. Dir-te-ia muito mais. Mais. Como a forma como as minhas mãos agrafadas se parecem com estátuas à espera de se quebrarem em si mesmas. Como a forma como se formam nós na minha garganta. Como eu saber exactamente o que tenho de fazer para terminar isto. Mais um crime. Mais um. Como eu saber que é crime e hesitar no que sei que devo fazer. Mais uma vez. Desculpa. E nisto, falo comigo e para mim. Desculpa, mas vou ter de matar.

Digo-te: "fecha os olhos."

Nunca viste nada. Nunca foste capaz de ver. E, certamente, não é agora que vais começar a ver.Tudo o que eu venha a escrever a partir de hoje, não poderás ler.

É simples: eu não existo; eu morro (todos os segundos).

Maria Rocha, 2006

1 comentário:

Vanessa Lourenço disse...

É estranho perceber que o passado se repete e é usado para um presente doente. Não tenho a cura, desculpa-me, mas posso acompanhar-te na doença e jurar que se for preciso injectar-me do vírus que te possui,não terei problema em fazê-lo. Um beijo, aconchegante.*