domingo, 9 de novembro de 2008

Cena II



este é o sítio mais longínquo e ao mesmo tempo mais perto que alguma vez poderei alcançar.
este momento. este, agora e sempre. aqui que me perco dentro de consoantes e vogais a tentar desmistificar o meu ser. e o teu e o do outro, o de todos nós. no fundo escrevo-me escrevendo-vos a todos porque somos todos feitos de carne e osso.
alguns com mais sentidos, outros nem tanto. e este é o momento em que se arde pressentindo que nada nos fará quebrar. estamos quebrados em dois há muito.
tudo começa desde que se nasce e vai-se degradando até chegar ao período em que a idade é menor que toda a bagagem que o corpo suporta.
talvez como uma pessoa que se senta a escrever e que tem uma espécie de aura que ocupasse um número infinito de quilómetros que do fim da sua extensão se beijassem os astros.
é um daqueles momentos em que se vive tudo num segundo e se saboreia o mesmo segundo estendendo-o para que nos possamos passear em nós mesmos. revê-se tudo.
rostos, pessoas, rostos, mãos, olhos, rostos e traços gerais. tudo muito pouco nítido. memórias, talvez. visões, talvez.

momentos em que parece que nos profetizamos e nos projectamos num qualquer sítio a viver uma vida com alguém que não nos recordamos do cheiro.
visões, talvez.
ou uma vontade infinda de agarrar todos os humanos que por nós passam todos os dias nos carros, nos passeios e os que vemos em jardins, em parapeitos... todos sem distinção. agarrar neles e poder contar-lhes a vida e ouvi-la deles. tudo isto num segundo alucinante e estendido.

só depois terminar... com um sorriso de improviso nos lábios.


Maria Rocha, 2005

3 comentários:

Vanessa Lourenço disse...

Genuínamente ouvindo...

Thiago disse...

Dificil de explicar, mas simplesmente belo...

delusions disse...

é o que nos fica algumas vezes...


...



lembrei-me de ti, no meu espaço.


bjs
Sofia*