I
há um presságio de necessidade
nas faces que passam como numa passerelle
pelo meu espelho embaciado por um desconhecido
respirar.
e de olhos fechados
gritam através da boca cosida a frio.
quero.
minas de carvão e de ouro
que me encham de asas e de olhos de diamantes;
quero os gritos das árvores,
os abraços das flores - imperatrizes do seu
império de pólen e fotossíntese áurea;
quero novas naus que arranhem céus, futuros
e índias na alma.
quero cruzadas que busquem as entranhas
do oceano grande que banha os meus braços
que tocam o horizonte fugidio -
- também o quero.
II
de seguida, arriva-me por entre as veias
o sangue em ebulição que ordena que
tudo aquilo que anseio se concretize
todo o meu corpo - antes inerte - se enche
da luz da noite e me torno imortal
sei agora - neste segundo - que carrego em
mim o poder de viajar por entre o mundo
descoberto dos dias imersos e vestidos
por pessoas e pelas noites cheias de zumbidos
de grilos e de fados improvisados nesta cidade
que alberga os gatos e os pardos
quero fazer-me desaparecer e mais me faço
emergir por entre esta camada de pessoas
que se arrasta em massa e que canta
um grito ténue e contínuo até que morre
às seis horas de cada dia
sem vírgulas
sem maísculas
sem vozes
para que tudo o que desejo
se realize e não tenha que quebrar
quaisquer regras para que me possa
evadir e me imortalizar
intermitentemente
Sérgio Ribeiro e Maria Rocha, 2006
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