domingo, 8 de abril de 2007

Constrita


Executo cada ordem que inscrevo nas folhas de papel que fazem torres à minha volta. Já não me incomodo. O tempo de me evitar findou de novo. E de vez. Fazer as pazes
com quem somos revela-nos que estamos prontos a começar de novo e que não temos
medo de nos magoarmos. Ponto. De momento, limito-me a seguir sofregamente a velocidade dos meus dedos e a força com que a caneta emprega contra a mesa de madeira. Durante tanto tempo houve o temor de que se deixasse provas à minha volta, que me iam dizer quem eu era. Não o podia permitir. Agora vejo isso. Apesar de oferecer bocados do que sou a objectos e a pessoas nunca soube ver-me com o espelho limpo sem ponta de vapor que escondesse as imperfeições. Sempre tive receio de me confrontar com o meu reflexo e nunca tive medo da minha sombra. Não deixa de me fazer esboçar um sorriso. Entendo agora que o meu equilíbrio é exactamente o meu desequilíbrio. Assumi-lo, principalmente. Fazendo-o, que mais poderá acontecer?
Hoje vou dormir comigo sabendo que a velocidade dos meus dedos me proporcionou mais uma viagem.

Amanhã, à mesma hora?


Maria Rocha, 2007

5 comentários:

Anónimo disse...

Sabes-te em dias com os que escreveste isso, e essa sensação é mesmo boa. Estamos connosco, em paz. Mesmo que por instantes.

delusions disse...

"O tempo de me evitar findou de novo. E de vez. Fazer as pazes
com quem somos revela-nos que estamos prontos a começar de novo e que não temos
medo de nos magoarmos. Ponto."

...


Bjs* boa semana

Maria disse...

H., espero que estejas assim de bem contigo também.
E um obrigada por te manteres ligada a mim após tanto tempo.

Maria disse...

delusions,

Uma óptima semana, querida.

*

Filipe Marques disse...

We treat mishaps like sinking ships.