domingo, 10 de fevereiro de 2008

Em forma de sono


Já perdi a firme condução das palavras. Fui querendo perdê-la aos poucos para também a tentar surpreender quando a tentasse reaver docemente ou à força. Tenho uma música a servir-me de ambiente sonoro. Está em repetição. Porque posso. Porque quero. Conheço o caminho de olhos fechados e juro que estar febril me ajuda a conhecer os limites do corpo. As palavras não me fugiram e nem me abandonaram. Guardei-as em envelopes, em frascos que tenho junto ao peito e acarinho-as diariamente. De vez em quando vou buscar os fiéis blocos de capa preta e resolvo dialogar com elas, mas depressa me resguardo e julgo não (me) querer ler meses depois daquela forma. A condução do meu corpo também ela mudou. Transformou-se, eu diria.



(a música continua a ser mesma a ambientar-me o quarto)

Acho que consigo enganar o tempo e julgar que venço o avanço das horas. Nunca gostei de relógios de pulso mas se me garantissem que poderia controlar as horas convertia-me em mais um invólucro humano que se dirige todos os dias para o posto de trabalho... de olhos fechados.


Maria Rocha, 2008


6 comentários:

delusions disse...

em forma de palavra...



belo.



bjinho*
Boa semana

T.E. disse...

Ainda bem que as palavras não te abandonaram :)

|___XyZ___| disse...

Oi!

Se fossêmos donos do nosso tempo, uma vida seria uma felicidade com um fim.

Continuo a gostar de te ler e de saber que continuas a saborear as palavras desta forma.

Boa sorte... E caso nao a tenhas , faz como os Beatles dizem : Let it be!

Abraço

Luisa Paula disse...

Passei por aqui e gostei do que li ...

Vanessa Lourenço disse...

Converto-me no dia que te converteres, não num pacto suicida, mas sim numa constatação de que estarei lá. Mas te garanto, enquanto os nossos pulsos viajarem nús, não há liberdade que nos seja negada.***

anya disse...

Gosto das tuas palavras *