quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Qualquer coisa assim


Apeteceu-me agarrar em mim e ao invés de selar e enviar-te uma carta pelo correio... ir eu mesma entregar-ta em mãos. Dizer que te perdoo, que te desculpo, que não guardo em mim ponta de mágoa. Agarrava no carro e percorria o mesmo trajecto pela última vez mas leve tão leve que o céu se abria para me facilitar a viagem. Chegava à porta da tua casa e deixava a carta junto ao tapete com uma pedra por cima. Decerto que ias perceber que era minha mesmo sem o remetente, mesmo com uma caligrafia desconhecida. Apetece-me que seja esta a minha última vida. Continuo a não ser compreendida e continuo a fazer um esforço absurdo por compreender os outros. Muitas vezes traço uma linha limite que deixa a visão um bocadinho turva e me cega por momentos. Tenho medo. Um medo sem comparação.
Mudei muito, mas há coisas incontornáveis.
Por vezes, o tempo é nada mais nada menos que um
aliado silencioso que nos reserva surpresas permanentes.

E eu percebi que não preciso de viajar muito para encontrar o meu porto de abrigo.


Maria Rocha, 2008

4 comentários:

T.E. disse...

apetecia-me roubar-te este texto. gosto da simplicidade.

Vanessa Valle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vanessa Valle disse...

lindos textos encontrei por aqui, felicitações pelo belo trabalho :)

Vanessa Lourenço disse...

Tens uma doca com o teu nome guardada no meu porto permanente.*