"Nunca mais soube de ti. Nem tão pouco me lembrei de me lembrar.
Chega a ser incómodo arrastar a memória temporal tanto tempo atrás.
Pergunto-me se as nódoas negras e a marca de cordas no pescoço
fazem parte da encenação. Há pessoas que fingem tão bem estar mortas
que só por isso o mereceriam, não achas?"
Quando fazem por nos apagar acredito que devemos saber sair de cena
sem causar grande alarido. Sair em bicos dos pés e apagar as cenas
em que as personagens se cruzam.
Apagar as didascálias que nos recordem disso e dar espaço,
talvez para sempre, como assim o desejam.
Deve ser a alternativa mais correcta para que quem se encontra
do outro lado do pano ou mesmo da assistência consiga reflectir que esta é só mais uma forma de não violar a liberdade de ninguém.
Ser livre magoa se uma das cláusulas for a da recusa da amizade genuína de alguém.
Talvez mais tarde alguém me explique a razão de recusarem um ombro honestamente fiel e amigo, virgem de mágoas. Talvez me consigam ensinar que o trilho que percorremos é sempre mais atribulado do que os quadros de parede.
Quando se desiste de alguém desiste-se também de nós, um pouco.
Maria Rocha, 2008