quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

não há céu.

e não me perdoes por te mentir o tempo.

não há.

nunca houve.



mas se te acalma meia alma 

contróis todo o inferno em cada gesto.



Maria Rocha, 2005

domingo, 21 de dezembro de 2008

Justiça


O bom disto é que não há regras. Pelo menos, agora neste preciso momento. Mais logo podem nascer umas quantas, mas agora é secundário. E o que queria deixar escrito é um pouco da minha passagem por aqui. Nada de novo, como sempre. Mas sempre renovado também. Nem precisaria de estar com explicações - que o não são. Mas o antes e o depois ajudam a compreender tudo de forma geral. Particularmente, apetece-me dizer que erguemos limites fiéis e justos porque, no fundo, começamos por não os ter em relação ao que quer que venha de encontro a nós ou ao contrário. Há uma elevada percentagem de anormalidade nisto que nos compõe, mas é tão forte fazer parte de tudo e estar-se tão uno com o que nos rodeia que o presente que nos é dado é a viagem de quem assiste tudo de fora e haver a emoção digna de um pai quando vê o seu filho vingar sozinho. Continuo e cada vez mais, veementemente, a ver e a sentir o que é realmente bom e o que, com as tentativas, sei que me faz bem também. Mas, desculpa-me, tenho de advertir de novo que isto que vês é tão linear quanto as velhas linhas de comboio que podem rachar a qualquer momento. A beleza disso é que sou também eu que as controlo. E se não for? Bom, o que interessa mesmo é que eu sinto isso e nem imaginas o quão atribulado foi o caminho até aqui. Dê quantas voltas der e quantas vezes eu consiga driblar o olhar do jogador menos atento, ainda lembro que nada disto é constante. Apenas e só um par de coisas que também elas não são constantes, crescem de dia para dia. Nem preciso de dizer o que é, quem é. Estivesse noutro planeta, a telepatia e o que passa aqui dentro seriam, para sempre, mútuos e livres de quebras. E nem sequer é preciso auto-advertir-me para o uso de algumas palavras. Que elas têm muito peso e importância já todos sabem disso. Mas de cada vez que as digo, as escrevo o seu peso e a sua intensidade aumentam exponencialmente e ao mesmo tempo fazem-me crer mais certa do meu próprio peso e importância.


Maria Rocha, 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Nota


Primeiro, estive a organizar esta espécie de livros, de manuais, de dicionários que julguei que haviam de ajudar a compreender, a perceber do que se trata. Depois, percebi que não importa muito, a menos que não tenha mais nada que fazer. Ocupar-me para me ocupar, sabes. qualquer coisa que me faça perder no meio da rotina dos dias das horas das pessoas. Sem vírgula nenhuma, obrigada. Devias ir ficando. Como estás a fazer. E não há quase ninguém que contorne os assuntos tão bem quanto eu. Falar de religião quando se pretende falar de ciência ou arrumar os assuntos debaixo dos braços e dar lugar a um silêncio que é tão mais revelador do que horas e horas de temas gerais. 


Maria Rocha, 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Rascunho


Isto de começar a convidar-te a ler o que quer que me satisfaça a velocidade estonteante dos dedos sem te pedir permissão, sem avisar
é quase uma invasão de privacidade. Às vezes, analiso o acto deste modo.
Procuro as palavras em busca de uma fórmula perfeita, mas acabo sempre por ir ter à mesma rua mesmo que me tenham vendado os olhos. O que acho que não sabes é que tenho quase a certeza que o meu lugar sempre foi este e sempre me projectei assim. Já te disse antes, mas sempre me vi aqui, a comandar as tropas na penumbra sem me importar que me reconheçam, apenas só a saber que sou eu que os faço mover. Ninguém alinharia nestes meus pensamentos soltos, dispersos, perdidos (sinónimos, adjectivos, palavras... tudo debaixo dos dedos e das nossas línguas) como tu. Só preciso que me dêem paz de espírito, algum conforto humano. E tenho tido muito disso. Sem esforço. Sem ter de pedir. Já reparaste como até os timbres das nossas vozes são calculadamente aproximados? Diferentes mas que encaixam, que, de formas distintas, mantêm a atenção pressionada. Eu diria mesmo que andámos em palcos velhos antes e que isto das almas estarem cansadas se deve a essas viagens um tanto loucas que fizemos. A lei da reciprocidade actua e serve-nos tão bem. Nunca consegui pintar-te a tela que te prometi tal como este nunca será o texto que eu acho que consigo fazer nascer de mim para ti. E prefiro manter as coisas assim. Armar-me em criança e achar que se não acabar as coisas, as coisas também nunca acabam. Sim? Eu sei que me entendes tão bem que continua a deixar-me sem chão quando me afasto um pouco disto tudo e tento observar o que é isto afinal. Não me lembro de quase nada do que foi antes de ti. Tenho breves memórias apenas. O que sei é que fazes parte de mim. De uma forma renovada a cada nova vez que te penso, que te falo, que te acarinho há algo que me faz querer conhecer-te de novo, apresentar-me de novo e sentir que seja lá o que vem por aí que se aguenta. Acho que li algures em entrelinhas de textos soltos que devia aguentar, que devia arrastar os pés com mais algum esforço, pois a recompensa chegaria. Deveria dar-te o prémio - se o houvesse - de pessoa que mais me tocou, mais me toca, mais me supreende.
Tudo o que sou não passa de um rascunho temporário que vai permanecendo e acaba por ficar tal como está. E se queres saber, não me importo muito. Interessa-me que estejas aí e que eu esteja para ti.
Faz sentido que estejamos cá há muito tempo e que nem saibamos.
Podemos sempre combinar um café daqui por uma centena de anos, se quiseres. E sem dúvida que mesmo que estejamos diferentes outra vez te vou reconhecer. E outra vez. E outra. Vez. Tudo. De novo.

Prometo-te que faremos tudo pela primeira vez... para sempre.


dedicado


Maria Rocha, 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Nada mais


Sabes aquela história de alguém dizer que te conhece mesmo bem? Pois é, risca isso. Só pode ser mentira ou andas muito distraído. Gostava que tudo fosse assim. Que todas as pessoas se conhecessem através duma assistência de bastidores, com direito a comentários do realizador e tudo. De vez em quando intercedias, opinavas, conhecias um bocadinho do que se estava a passar, mas depois voltavas à tua casa, à tua vida, ao teu rumo incerto com mais um bocadinho daquela pessoa que já não era assim tão estranha. Juro que tenho tanta vontade de escrever que fico com receio de me aproximar do papel. Não sei bem avaliar o que é isto e, honestamente, nem sei se quero. De todas as outras vezes que o fiz acabei por me perder do resto do grupo. Sim, na verdade, somos muitos. Como as ovelhas que têm um pastor, um cão de guarda e onde há sempre mas mesmo sempre uma ovelha negra bem lá no meio, no sítio onde mais se nota a diferença de qualquer ponto de onde te encontres e que as avistes. Onde nos avistes. Eu também faço parte delas. Acho que sempre fiz, mas tirava umas férias de vez em quando. Se calhar, era quando te ia espiar e quando o realizador da tua vida me sussurrava o que tinha acontecido no último episódio. Percebeste bem, eu disse que fazia parte. É novo. Pois é. E não me podia importar menos com isso. O que importa é o que está por vir e nada mais.


Maria Rocha, 2008