"Nunca mais soube de ti. Nem tão pouco me lembrei de me lembrar.
Chega a ser incómodo arrastar a memória temporal tanto tempo atrás.
Pergunto-me se as nódoas negras e a marca de cordas no pescoço
fazem parte da encenação. Há pessoas que fingem tão bem estar mortas
que só por isso o mereceriam, não achas?"
Quando fazem por nos apagar acredito que devemos saber sair de cena
sem causar grande alarido. Sair em bicos dos pés e apagar as cenas
em que as personagens se cruzam.
Apagar as didascálias que nos recordem disso e dar espaço,
talvez para sempre, como assim o desejam.
Deve ser a alternativa mais correcta para que quem se encontra
do outro lado do pano ou mesmo da assistência consiga reflectir que esta é só mais uma forma de não violar a liberdade de ninguém.
Ser livre magoa se uma das cláusulas for a da recusa da amizade genuína de alguém.
Talvez mais tarde alguém me explique a razão de recusarem um ombro honestamente fiel e amigo, virgem de mágoas. Talvez me consigam ensinar que o trilho que percorremos é sempre mais atribulado do que os quadros de parede.
Quando se desiste de alguém desiste-se também de nós, um pouco.
Maria Rocha, 2008
8 comentários:
Todas as pessoas têm as suas razões de viverem. Todos pensa-mos de modo diferente, opera-mos e vaguea-mos por entre a vida.
Alguns de nós são actores e outros assistem de bancada, como deuses perdidos e incompreendidos no mundo que temos.
Dentro de cada um a perda de algo ou alguém que nos foge pelos dedos não significa que falha-mos. Mas que fomos incapazes de acompanhar essa pessoa ou vice-versa.
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"Quando se desiste de alguém desiste-se também de nós, um pouco."
É bem verdade. Nem sempre é fácil, mas há momentos em que não pode ser doutra forma... **
Acho que tu e eu partilhamos muitas coisas: realidades, pensamentos, corações, palpites e coisas que nem recordamos. Eu perco um pouco de mim quando desisto de alguém, mas se o faço, tu sabes, é porque me ultrapassa aquilo que sinto. Mas sei que há pessoas que nunca hei-de "desistir" e tu minha velha alma companheira, tu ergues-te e eu delicio-me com teu "eu". Um beijo imenso minha menina de caracóis revoltos.***
Isso soa quase muito verdade.
Este está muito bem dito. Este está mais verdadeiro do que muitos que tenho lido por aí.
Este está daqueles de acabar de ler e ter a boca tão cheia de palavras, que de tão cheia só conseguimos balbuciar "...é verdade."
Beijo
estou aqui,
a ler-te,
a sentir-te o abraço,
a perguntar-me se ainda fazem sentido estas palavras de ausência,
quando o tempo passou e parecemos a névoa de algo que foi.
Sinto que te falhei.
Temos falhado,
E o pior é a falta de razão.
Beijo para ti, Maria
thiago: Não podias estar mais certo. *
anya: Fácil é um adjectivo cada vez mais difícil. :) Se calhar é disso que temos de nos capacitar e talvez tudo se torna mais simples (não menos fácil).
vanessa lourenço: Tu sabes tudo o que vai dentro, lês-me sem que tenha que abrir a boca e duma maneira que não consigo entender dás-me muita vontade de continuar. De continuar. Tudo. Não há palavras para te descrever, para dizer quanto gosto de ti, que te amo do fundo.*
j...: É a minha verdade, pelo menos.
marta: :) É bom saber-te aqui. Este está mais terreno, mais verdadeiro... é como encaro os teus textos, são sempre assim... verdadeiros e fazem-me reflectir e agir, consequentemente. Fazes uma diferença enorme no meu trilho, mesmo que distante. *
di*:
Tenho - sempre tive - muita coisa para te contar... continuo a ter. E anseio por te contar tudo, que me possas dizer que fiz bem e que, apesar de tudo, continuo a mesma pessoa que conheceste. Acho que já mudei, bastante. Não estou mais fria, mas acho que mais consciente de mim e que tenho de gostar de mim para me poder respeitar. É verdade que preciso de te falar... seja de que forma for. É a diferença que tens das muitas pessoas com quem me cruzei nesta curta existência; tu fazes-me falta; marcaste-me. O que partilhámos foi só um terço do que poderíamos ter partilhado e do que poderemos partilhar. Se calhar também eu falhei. Sei que falho constantemente. Mas sabes bem que se assim é então que falhemos, mas melhor. ; ) (Beckett)
E continuas aqui dentro. Não há razão nenhuma que apague isso.
Gosto de ti, muito.*
Quando se desiste de alguém, acredito que também desistimos de nós, porque revelamos a nossa fraqueza. Mas quando deixamos a pessoa partir, então significa que queremos estar bem connosco e então, sim, apostamos em nós!
É só uma pequenina diferença que pode fazer algum sentido para alguns.
Beijinhos :)
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